Voltamos hoje ao tema Síndrome Metabólica. Em outro texto publicado nesta coluna, foram descritos os aspectos que concorrem para o desenvolvimento da Síndrome Metabólica (SM), suas causas e maneiras de intervir em seu curso. Hoje abordaremos os efeitos desta síndrome sobre a saúde reprodutiva da mulher.
Na Síndrome Metabólica, múltiplos fatores associados elevam o risco para doenças cardiovasculares (infartos, derrames cerebrais, dentre outros), doenças vasculares (tromboses) e o diabetes. Os fatores são a hipertensão arterial, o aumento dos níveis de açúcar e gorduras no sangue e o acúmulo de gordura no abdome (obesidade central). O controle destes fatores leva o paciente a melhora de sua qualidade de vida e influi positivamente em sua sobrevida.
Sabe-se hoje que as alterações associadas à Síndrome Metabólica possuem relação de causa e efeito com distúrbios da vida reprodutiva feminina, como por exemplo: infertilidade, irregularidade menstrual e em casos extremos predispor ao câncer de endométrio.
Vários textos na literatura vêm associando a SM com outra síndrome, a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). Esta é a doença endócrina mais comum na fase reprodutiva da mulher.
Em nosso meio existe grande prevalência de mulheres com esta condição. Estima-se que cerca de 8% das mulheres em idade fértil sofram da SOP. Possui caráter familiar, principalmente entre parentes de primeiro grau (20 a 60% das pacientes). Pode iniciar após a menarca (quando a mulher menstrua pela primeira vez) e evoluir até a menopausa (definida como ausência de menstruação após um ano).
É caracterizada pela presença de vários sinais que somados vão nos dar o diagnóstico. As pacientes podem apresentar distúrbios menstruais (ciclos menstruais longos) associados ou não com ausência de ovulação (o que pode levar à infertilidade), crescimento de pelos com padrão masculino (hirsutismo) e o desenvolvimento de acne (espinhas), alterações estas associadas com a maior produção de hormônios androgênicos (hipereandrogenismo).
Sua causa ainda não é completamente elucidada, mas uma das hipóteses mais aceita atualmente associa as alterações da regulação do funcionamento ovariano, com uma maior resistência corporal ao hormônio insulina. A resistência à insulina caracteriza-se pela diminuição da sensibilidade dos tecidos à ação deste hormônio, gerando importantes implicações metabólicas, como o diabetes tipo II.
A insulina é secretada pelo pâncreas, sendo responsável pelo metabolismo do açúcar dentro das células do corpo. O aumento dos níveis sanguíneos de insulina nestes casos levaria ao bloqueio da função ovariana, ou seja, causaria ausência de ovulação. Estas pacientes, por não ovularem, possuem cronicamente níveis elevados de estrogênio, que se não controlado pode predispor a doenças endometriais como as hiperplasias e até o câncer endometrial.
Trabalhos realizados mostram que entre 50 a 70% das mulheres com SOP tem aumento da resistência à insulina, fato que agrava o hiperandrogenismo. Algumas destas pacientes estão com o peso do normal, porém a maioria apresenta peso acima do preconizado para sua estatura e idade.
Nestas pacientes outros agravos da saúde devem ser pesquisados e controlados como a hipertensão arterial e a dislipidemia (distúrbios do colesterol e triglicérides dentro outros). O tratamento atual visa a correção dos dois distúrbios – a Síndrome Metabólica e a Síndrome dos Ovários Policísticos. O controle da última pode ajudar no controle da primeira e vice-e-versa. Prevenção é sempre o melhor remédio.
Dr. Ronaldo de Carvalho.
email: roncarva@uol.com.br
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